terça-feira, 19 de julho de 2016

Poemas sobre a classe operária: Olho As Minhas Mãos II


Olho as minhas mãos II
Paulo Ayres

A água passa entre o dedos
Ainda é cedo, o sabonete é um peixe-palhaço
E as anêmonas-do-mar agradecem o mimo
Não tem arrimo para essas ferramentas
Não tem; para as juntas só tem um óleo
Olho as minhas mãos
Pensando bem, elas são estranhas sim,
Porque são minhas e minha vida é estranha
Como se fosse lasanha de berinjela
Alimentando essas duas plantas carnívoras.
Mãos enferrujadas e enrugadas
Alguns anéis de bandeide servem de adorno
Um forno: plástico quente, muito quente
Na minha frente, o espelho reflete o incêndio
Dispêndio de energia, desperdício de massa
Peças rebeldes me rebaixam ao rebarbar
É só tirar o estilete do bolso, sentar e dar início
Limpo o espelho embaçado
Não me vejo mais lá sentado
Num estelar de dedos, tenho que ir para lá

= = =
[0] "Olhos As Minhas Mãos I" é um poema de Mário Quintana.
= = =

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