quarta-feira, 27 de julho de 2016

Poemas sobre a classe operária: Os Ombros Suportam o Mundo II


Os ombros suportam o mundo II
Paulo Ayres

No livro da vida, mapas de lugares desconhecidos
A matéria-prima da Nigéria está na prateleira do Uruguai
O que sai, o que se exterioriza, viaja ao redor do mundo
O mais profundo gesto de impotência é ser um graveto
Somos o objeto de uma mistificação com código de barras
O operário é o titã que sustenta o mundo nos ombros
Brilham seus olhos resplandecentes no espaço sideral
O rude trabalho manual deixa o coração seco
Essa foi sua punição após a titanomaquia inglesa
Zeus está morto, lembrou o filósofo irracionalista
No comando está uma divindade criada manualmente
Sedenta e mesquinha, ela devora seus biscoitos antropomórficos
O peso de tantas classes, tantas riquezas, tanta desigualdade
Cada vez mais pesado, cada vez menos células no seu corpo
Chegou um tempo em que a vida e a morte se confundem
Ajoelha-se sobre uma perna o operário


* "Os Ombros Suportam o Mundo I" é um poema de Carlos Drummond de Andrade.

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