domingo, 20 de novembro de 2016

Poemas sobre a classe operária: Isopor V


Isopor V
Paulo Ayres

Na salinha dos recursos humanos,
As paredes são de isopor
Meus dentes também
Boca seca, sorriso forçado

Na saliva do trabalho desumano,
O sanduíche é com carne viva
O meu tem gosto de isopor
Beco sem saída, ventos contrários

Serviçários avaliam minha mercadoria
Minha fotinha chorava nesse dia
Ninguém percebeu
Eu dissimulando
Ideações suicidas
Bochechas coradas
Hígia deu seu aval
Folhas assinadas
Nove vidas vendidas
Nueve reinas falsificadas

Com EPI, fazendo EPS
A gente esquece do episódio piloto
A gente esquece do mundo
e da beleza do sol

= = =

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