sexta-feira, 20 de agosto de 2021

Gabriel Lazzari, dirigente da UJC: Não apoiamos a conciliação de classes

Mesmo sem descartar apoio a Lula, dirigente da União da Juventude Comunista defende que seu partido tenha uma política independente; veja vídeo na íntegra
por Camila Alvarenga
Opera Mundi

No programa SUB40 desta quinta-feira (19/08), o fundador de Opera Mundi, Breno Altman, entrevistou Gabriel Lazzari, secretário político nacional da União da Juventude Comunista, a juventude do Partido Comunista Brasileiro (PCB).

Para ele, o comunismo está encantando cada vez mais os jovens e isso foi perceptível nas manifestações contra Bolsonaro, em que chamavam a atenção os blocos do PCB e da UJC: “Tem uma geração nova que, ao mesmo tempo que não cai mais no engodo do social liberalismo, olha para o passado e busca caminhos no comunismo e suas experiências dos séculos 19 e 20”.

Essa mudança de comportamento se torna ainda mais significativa, na opinião de Lazzari, diante de um cenário polarizado entre Lula e Bolsonaro, “porque se o partido decidir apoiar Lula, certamente precisaríamos demarcar que Lula não é a solução. Não apoiamos a conciliação de classes. Não temos ilusões de que Lula será menos capitalista que Bolsonaro. Ele adotará medidas de menos exploração, mas não de emancipação”.

O dirigente avaliou os governos petistas anteriores, principalmente no âmbito da educação, reforçando a característica de conciliação de classes, “em que é possível conseguir coisas, mas com contradições e sem perspectiva emancipatória”.

“Houve uma opção consciente e objetiva que foi de fazer uma expansão das universidades públicas sem uma contraparte orçamentária adequada, operando junto com concessões de hospitais públicos, por exemplo. E, ao mesmo tempo, incentivar as universidades privadas com programas como o ProUni e o Fies. Não somos contra esses programas, mas defendemos a escola e a universidade popular, a estatização do sistema educacional, que seja totalmente comprometido com a perspectiva de classe”, defendeu.

Lazzari também destacou a importância de defender pautas como a legalização do aborto e a descriminalização das drogas, dois pontos que sempre estiveram no programa do PCB.

“Eu também sou um entusiasta da presença da esquerda nas Forças Armadas, mas ainda não chegamos a uma solução sobre encorajar os militantes a se alistar. Não existe experiência revolucionária que não tenha deslocado setores das Forças Armadas para a classe trabalhadora”, ponderou.
 
Internacionalismo

O dirigente da UJC refletiu sobre a conjuntura internacional e a importância do apoio às classes trabalhadoras do mundo. No caso do Afeganistão, por exemplo, ele afirmou que a retomada do Talibã “abre um novo ciclo de contradições da luta de classes”.

“Foi uma derrota militar norte-americana, mas, ao mesmo tempo, eles conseguiram conquistar ali o que queriam. Mantiveram sua hegemonia ali durante 20 anos, expandiram o mercado do ópio, tiveram postos avançados. Mas o Talibã também não é uma alternativa para os trabalhadores, é reacionário, com peso religioso. Tem dado sinalizações democráticas, mas acho que isso vai ser cosmético, vão surgir outros bodes expiatórios. Erra quem diz, como o PCO, que foi uma vitória do povo afegão”, destacou.

Sobre China, Lazzari disse que se trata de uma experiência de transição semelhante ao que Lênin chamava de “capitalismo de estado”: “É um Estado operário, mas que, por necessidades econômicas, constrói um aparato burguês. Isso gera muitas contradições que terão de ser combatidas”.

Já no caso de Cuba, o dirigente demonstrou admirar a experiência caribenha e disse que, na onda de protestos que surgiram na ilha, ele teria participado daqueles em apoio à revolução. Lazzari também descartou a possibilidade de restauração capitalista em Cuba.

“Acho que o nível de abertura de mercado ali foi uma necessidade que o Partido Comunista Cubano sentiu, mas que não representa ameaças porque não criou uma classe. E na ilha há uma estrutura de democracia de base muito forte. Vão precisar corrigir algumas rotas, o partido tem dificuldade de fazer a formação ideológica da juventude, e eles reconhecem isso, mas não corre risco de restauração capitalista”, afirmou.
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