terça-feira, 10 de junho de 2014

Os operários mortos na construção dos estádios da Copa


por Paulo Ayres

Na próxima quinta (12), começa a Copa. Que nada mais é do que a Copa do Mundo de Futebol Masculino. É bom lembrar disso porque é estranho para um país que alguns querem rotular como o "país do futebol", praticamente ignorar o futebol feminino. E este fato é apenas um entre os mais variados que deixam claro que o ufanismo copeiro apenas reflete todas as marcas que já estão presentes nos aspectos da nossa alienação cotidiana... e mundial (é bom frisar que as formas contemporâneas de alienação são um fenômeno da ordem internacional do capital, porque tão nocivo quanto o nacionalismo ufanista é o seu extremo oposto, o viralatismo; aquilo que Nelson Rodrigues chamou de "complexo de vira-lata").

Muita gente confunde a alienação (Entfremdung) com um dos conceitos de ideologia: aquele que é restrito e crítico-valorativo, ou seja, a falsa consciência. Mas não, a alienação não é apenas um fenômeno subjetivo, mas objetivo também - e está profundamente enraizada na vida sob esta formação social de classes; variando apenas em grau de indivíduo para indivíduo no que diz respeito ao atrofiamento do seu desenvolvimento humano. Inclusive, o nosso mundo moderno não deixa de ser erguido e sustentado sob a forma do trabalho alienado mais concreto. E a palavra concreto aqui, neste comentário, é utilizada adequadamente tanto no sentido teórico, quanto no sentido da palavra que nos lembra cimento e construção civil no geral. Os operários mortos durante o ato de trabalho não assistirão a Copa, mas contribuíram concretamente, não só para que os palcos deste evento existissem, mas deram a vida nos processos de transformação da natureza que criam o mundo social. As condições precárias, denunciadas em alguns destes canteiros de obras, precisam ficar na responsabilidade (principalmente) das empreiteiras, da Fifa, da CBF, dos patrocinadores, da mídia privada e do governo (federal, estaduais...). E é mais um motivo para lembrarmos da fragilidade humana perante um modo de produção em que os lucros falam mais alto do que o próprio ser humano. E, consequentemente, nos indignarmos com esse tipo de formação social e refletir sobre as nossas vidas singulares.

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Companheiros operários mortos na construção dos estádios da Copa [até o presente dia]:

03/10/2011 – Arena do Grêmio – Porto Alegre – JOSÉ ELIAS MACHADO
11/06/2012 – Mané Garrincha – DF – JOSÉ AFONSO DE OLIVEIRA RODRIGUES
19/07/2012 – Mineirão – Belo Horizonte – ANTÔNIO ABEL DE OLIVEIRA
06/12/2012 – Arena do Grêmio – Porto Alegre – DIEGO BAPTISTA
23/01/2013 – Arena do Grêmio – Porto Alegre – ARACI DA SILVA BERNARDES
28/03/2013 – Arena Amazônia – Manaus – RAIMUNDO NONATO LIMA COSTA
15/04/2013 – Arena Palestra / Palmeiras – São Paulo – CARLOS DE JESUS
27/11/ 2013 – Arena Corinthians – São Paulo – FÁBIO LUIZ PEREIRA
27/11/ 2013 – Arena Corinthians – São Paulo – RONALDO OLIVEIRA DOS SANTOS
14/12/2013 – Arena Amazônia – Manaus – MARCLEUDO DE MELO FERREIRA
14/12/2013 – Arena Amazônia – Manaus – JOSÉ ANTÔNIO DA SILVA NASCIMENTO
07/02/2014 – Arena Amazônia – Manaus – ANTÔNIO JOSÉ PITA MARTINS
29/03/2014 – Arena Corinthians – São Paulo – FÁBIO HAMILTON DA CRUZ
08/05/2014 – Arena Pantanal – Cuiabá – MOHAMED ALI MACIEL

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