sábado, 14 de fevereiro de 2015

Poemas sobre a classe operária: Dois dias no inferno



Dois dias no inferno
Paulo Ayres

Quando nada mais faz sentido à tarde
A ausência de sentido aparece reluzente
Tanto faz se é seis horas da manhã ou do entardecer
O marasmo te esmaga, teus poros têm ferpas
Você vai de um canto a outro da esteira fordista
A vida é desgraçadamente uma linha de produção

O ar é puxado pelos pulmões, mas o ânimo não surge junto
Como se uma só respirada durasse quarenta e oito horas
Nesse intervalo, você é um zumbi: apático e automático
Logo, algo a mais vem com o oxigênio, é algum sentido
Não é possível superar uma vida alienada individualmente
Mas é possível lidar melhor com ela, ter algum equilíbrio

Quanto menos o inferno me afetar, mais vejo as nuvens
Mas é difícil não sucumbir ao olhar o abismo de perto
Em tempos de irracionalidade produzida em escala industrial
manter-se lúcido é um ato revolucionário
= = =

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