quinta-feira, 3 de março de 2016
Poemas sobre a classe operária: Seladora
Seladora
Paulo Ayres
Os raios de sol da manhã são tão aconchegantes
Vejo algo vindo lá na frente, aumentando de tamanho
O barulho da esteira funcionando, algumas conversas
A torneira faz paradas, encontrando mãos pelo caminho
No fundo, serei o último a contemplar
Pego a embalagem amarela na caixa
A primeira pisada
Sem sair do lugar
Lacrado
A segunda, a terceira, a quarta e a quinta pisadas
O corpo ainda está lento, aquecendo gradualmente
Torneiras, de vários tipos, em maior quantidade
O piloto automático está vindo
A trigésima sétima pisada
Sem sair do lugar
Lacrado
Já me sinto como uma extensão da máquina
Exausto, cansado, exaurido
A centésima pisada
Sem sair do lugar
Lacrado
Os raios de sol das dezessete horas trazem alívio
A esteira para, as torneiras não chegam
A mesma torneira me perseguirá amanhã
Por enquanto, ganhei um intervalo
Mesmo do lado de fora,
Sinto minha vida embalada
Lacrada
= = =
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