terça-feira, 28 de junho de 2016

Poemas sobre a classe operária: Primeira Teleologia


Primeira teleologia
Paulo Ayres

A primeira teleologia a gente nunca esquece
Subi na árvore para apanhar umas frutas
Subi antes de subir
Uma abstração, uma avaliação
Autoconsciência
De tanto subir em árvores,
Um reflexo das árvores entrou em mim
Formando essa coisa pensante
Não se confunde com a floresta
Serve para eu lidar com a natureza melhor
Uma bela ferramenta
Deixando de ser mera ferramenta
Sou o agente
Subi na árvore como um animal
Desci de lá socialmente
Um sorridente ser humano
Olhando para os lados, mil perguntas
Nesse dia, o universo se dobrou pela segunda vez
Milhares de anos se passaram
Acordei como operário de mineração
Muita teleologia primária na veia
Trabalheira gigantesca para achar uma pedrinha
Se fosse uma simples fruta, ao menos
O que mais me incomoda
Além do cansaço e exploração
É a áspera falta de reconhecimento
Poucos seres humanos no planeta,
Produzem um grau de valor econômico como eu
Esqueceram que coleta na natureza é trabalho
Justamente, o primeiro trabalho
De sopetão, um engomadinho de apartamento
Olha só, um fiel leitor de austríacos picaretas
O enorme valor do diamante
Não seria fruto do tempo de trabalho
É a raridade, diz o sacripantas
Falsidades como essa é que deveriam ser raras
= = =

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