Não há vagas II
Paulo Ayres
O grande hotel da lírica
continua lotado
A maioria dos hóspedes
não conseguiu uma vaga
no Grande Hotel Abismo
Por isso, se dirigem para lá
Nas suas malas, muitas coisas
Nas suas falas, coisas de menos.
Exaltar o amor romântico
Este é o cântico dos cânticos
A família monogâmica
O moralismo
O bacanal
Os deuses
O empoderamento
O próprio umbigo.
A lírica
de tão idílica, mas tão idílica,
É autoajuda
Edificação
Louvor
E siririca.
O operário e o funcionário público
esperam do lado de fora
Um mísero quarto
com um preço acessível
é quase impossível
Dos dois,
o proletário é o mais chateado
Ele ergueu o prédio
e agora o remédio é rondar
pela calçada
Ainda não há vagas
Mas, olha só aquilo, senhores
Na porta do hotel,
com toda pompa,
uns versinhos
concretistas
Quinhentos likes
- Sofria
- Sou fria
Sofreguidão
= = =
[0] "Não Há Vagas I" é um poema de Ferreira Gullar.
= = =
sábado, 15 de outubro de 2016
Poemas sobre a classe operária: Não Há Vagas II
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