segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Poemas sobre a classe operária: Belina Verde

Belina verde
Paulo Ayres

Tanto tempo de expectativa
E nenhuma iniciativa
Até decorei o seu som

Tanto tempo desperdiçado
Um Sísifo obcecado
Esperando um sim

Nada que é humano me é estranho
Mas nada eu ganho em me estranhar tanto

Quando lembro daquelas tardes mecânicas,
Dia de treinamento me amestrava
Noite de lamento eu fantasiava
Oficina behaviorista

Quando lembro daquelas listras verdes,
Dois grandes faróis redondos me encaravam
Dois horários em que a defesa se abria
Pivô da malícia

Quando lembro daquela belina verde
Dois grandes faróis redondos me ignoravam
Duas pernas da Ravena não apareciam
Véu de Maya

Apenas no lugar mais estranho da cidade,
eu pude me libertar deste estranhamento artesanal
ao me aprisionar como proletário
e produzir capital
= = =

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