O açúcar II
Paulo Ayres
A crise de 29 queimou toneladas de café
O clube dos 27 não é só feito de arte
Em toda parte há imolações
como arremate de amolações
O facão amolado
é o primeiro ingrediente do melado
é o desbravamento do proletariado
que fornece o ouro branco.
Faço parte destes desventurados
que aos trinta tem cara de cinquenta
que aumenta a doçura do mundo
pagando o preço do amargor
pagando para o o dono da usina
o direito de sobrevivermos.
Todo carnaval tem seu fim
o que parece sem fim é este canavial.
Esta cana será açúcar
Companheiros, outros desventurados,
espremerão até cair o ouro branco
Desventurados, outros companheiros
transportarão para todo o Brasil.
Nas alturas da superestrutura,
aquilo tudo que colhemos
será medido em colheres
para cada venda de açúcar
para cada gole de café
para cada vida amarga
Inclusive para o poeta
contemplando o açucareiro
numa manhã carioca.
= = =
[0] "O Açúcar I" é um poema de Ferreira Gullar.
= = =
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