domingo, 22 de janeiro de 2017
Poemas sobre a classe operária: Se Não Sou Eu Aqui (Essa Construção Desaba)
Se não sou eu aqui (essa construção desaba)
Paulo Ayres
E se me identifico com uma canção do Chico,
como é que eu fico quando acaba?
E se nessa ficção farsesca há concreto de sebo,
eis um efeito placebo, como a pinga que bebo,
Essa construção aqui desaba!
E se sou um peão de obra registrado e folgado
Cuidado com o tijolo no quengo!
E se o andaime quebra uma perna ou um galho
depende do atalho, o bucho eu agasalho
Este fruto aqui continua verdoengo!
E se o capataz é uma besta quadrada
Não serve para nada, somos maridos de aluguel
E se o imigrante não é abelha (e nem ovelha)
entra cimento na orelha, faço o que der na telha
Essa construção não chega ao céu!
E se pego o trem às quatro da madrugada
Eu rango marmita gelada na colmeia
E se o empreiteiro molenga é uma muralha
estátua não trabalha, quem é que atrapalha?
Essa construção não é pudim de geleia!
E, meu bem, se tu quer me mandar embora,
paro tudo agora e me demito, fariseu
E se tua ganância é um balde sem fundo,
saiba que eu sou a fundação do mundo
Eu sou eu, mas não sou apenas eu
Tu mesmo não a acaba
E se não sou eu aqui,
essa construção desaba!
= = =
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