quarta-feira, 22 de março de 2017

Poemas sobre a classe operária: Guardas da Fronteira II


Guardas da fronteira II
Paulo Ayres

Se eu soubesse que veria o Khedira tabelando,
não teria comprado uma LED.
Se eu soubesse que não pega infinitos canais,
não teria instalado uma SkyGato.

O fato é que a minha liberdade foi negociada
em doze vezes sem juros
em doze meses escuros
em doze quilômetros de muros.

O bacana é que aqui a Terra é plana
deuses astronautas, livre-arbítrio e Judiciário
Nessa nitidez, eu me vejo em absurdez
numa placa com micro-luzes de operários.

O bacana é relaxar no final de semana
seria só ignorar os guardas da fronteira em cada atalho
seria só deixar os micro-operários fazerem o seu trabalho
e eles somem quando acendem.

O fato é que minha emocionalidade foi negada
em apegos inseguros
em afagos truculentos
em tragos e cartas.

Quando eu parar de pagar tudo vai se apagar
O que importa é se eu noto o meu controle remoto
Não sou eu o delirante,
foi a Beauvoir que escreveu o livro.
Não sou mais um dependente,
quando finjo que não é gente a operária.
= = =

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