The Subway (1950), de George Tooker |
O salário do medo
Paulo Ayres
Aperto a pasta de dente até ela virar ao avesso
E avanço o sinal vermelho de madrugada
Isso não é nada perto do meu aperto
Acerto os números da Mega quando eu esqueço
E o preço de fezinha me deixa enfezada
Isso é tudo o que sobra no meu desconcerto
Na fábrica, minhas mãos produzindo e a cabeça longe
Minha filha, friagem e febre
Nitroglicerina pura
Nitroglicerina pura
No inverno, fica tarde mais cedo
No inferno, o salário do medo
E o medo que o salário acabe antes do dia 31.
Este mês só tem trinta?
Vinte e nove?
Vinte e oito?
Vinte e sete?
Vinte e seis?
Vinte e cinco?
Vinte e quatro?
= = =
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