quarta-feira, 19 de julho de 2017

Poemas sobre a classe operária: O Salário do Medo

 The Subway (1950), de George Tooker
O salário do medo
Paulo Ayres

Aperto a pasta de dente até ela virar ao avesso
E avanço o sinal vermelho de madrugada
Isso não é nada perto do meu aperto

Acerto os números da Mega quando eu esqueço
E o preço de fezinha me deixa enfezada
Isso é tudo o que sobra no meu desconcerto

Na fábrica, minhas mãos produzindo e a cabeça longe
Minha filha, friagem e febre
Nitroglicerina pura

No inverno, fica tarde mais cedo
No inferno, o salário do medo
E o medo que o salário acabe antes do dia 31.

Este mês só tem trinta? 
Vinte e nove?
Vinte e oito?
Vinte e sete?
Vinte e seis?
Vinte e cinco?
Vinte e quatro?
= = =

Nenhum comentário:

Postar um comentário