por Lauro Campos
A Contabilidade Social adotada na União Soviética se mantém fiel à
teoria do valor trabalho e, por isso, inclui no Produto Nacional Bruto
apenas os bens obtidos por sua economia em dado período de tempo.
A Contabilidade Social dos países capitalistas está vinculada
implicitamente à teoria marginalista do valor. Somente a partir de uma
aceitação da teoria marginalista, subjetiva, seria possível homogeneizar
bens e serviços, somando-os como se fossem homogêneos em
sua natureza. Quando se considera que bem econômico é tudo que possui
ofelimidade ou que tem utilidade para o consumidor, trabalho produtivo e
serviço improdutivo passam a ser homogêneos e o resultado de ambos um bem econômico, desde que a avaliação final do consumidor o erija àquela categoria.
Essa homogeneização
realizada pela Contabilidade Social não seria admissível em nenhuma
análise feita nos moldes clássicos ou nos pressupostos da teoria do
valor trabalho: só a concepção marginalista veio permitir sua montagem.
Considerando o Produto Nacional Bruto como total de bens e serviços
obtidos por uma economia nacional em determinado período, a visão do
fenômeno básico apontado por Marx passou a ser muito difícil. Se se
computassem apenas os bens (excluindo-se os serviços), viria à
tona que o fluxo físico de oferta de bens não encontraria o
correspondente poder de compra por parte dos agentes diretamente ligados
ao processo de produção. Verificar-se ia que o setor terciário
representa um subproduto dos setores primário e secundário que funciona
como um mecanismo de correção da demanda global em relação ao fluxo
físico de oferta dos setores industriais de produção. Os investimentos
públicos em setores não reprodutivos (fora de I e de II) permitem o
aumento da capacidade de consumo da coletividade e a realização do
correspondente out put de bens de consumo, dentro de certos limites.
Logo, mesmo a Contabilidade Social moderna afastou, apenas
aparentemente, a teoria do valor que permanece encoberta, determinando
seu aparatus conceitual e conduzindo seus resultados.
= = =
CAMPOS, L. A crise da ideologia keynesiana. Rio de Janeiro: Campus, 1980, pp. 100-101.
= = =
Nenhum comentário:
Postar um comentário