sexta-feira, 11 de março de 2016

Poemas sobre a classe operária: Turno da Madrugada


Turno da madrugada
Paulo Ayres

As máquinas não dormem
Nós dormimos a manhã inteira
O nosso café da manhã é um prato de comida quente
Jornal e novela, hora de ir trabalhar
Vinte e duas horas e a noite é uma criança
As máquinas não dormem
Meia-noite e o meu traje continua a rigor
Lá fora, um silêncio de grilos
Aqui dentro, uma parafernália cantando desafinada
Abafado, meus protetores de ouvido não me deixam mentir
As máquinas não dormem
Uma bolacha recheada
Engulo enquanto a máquina não cospe o produto
Mais uma caixa cheia para o carregador
A escuridão lá fora, pela janela, é convidativa, com suas estrelas
As máquinas não dormem
E não mijam também, 
Hora de passar o bastão momentâneo para o encarregado
De volta, a máquina parece menor enquanto caminhava
Tanto tempo juntos, eu e a máquina, a máquina e eu
O céu está um pouco claro, injeção de ânimo
Enquanto aquela janela não mostrar um céu azul a paz está a quilômetros
Os raios de sol mudam a aparência do local
De salão diabólico para ambiente celestial
Os viajantes do turno das luzes já estão chegando
Cheirando café forte
Hora de passar o leme do barco
Eu vou dormir num quarto escuro, 
Tentando ignorar o barulho dos carros e conversas
As máquinas não param
= = =

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