sábado, 28 de janeiro de 2017

Poemas sobre a classe operária: Festim Diabólico


Festim diabólico
Paulo Ayres

- Black Phillip:

Se levanta da sepultura, Dante XXI
veio conhecer nossos tormentos
a Modernidade lhe seduz e repugna
lago de lama, lamarckismo e lamentos

- Dante XXI:

Fui convidado para a mansão de Mamon
Leviatã me recebe no portão, pede a senha
Venha quem vier, ele e Cérbero vigiam
Vigiar e punir é sua função

Eis a casa grande, o suntuoso palácio
Círculos concêntricos, globos egocêntricos
Essa é a classe revolucionária? Que desgosto!
Muitos rostos e alguns conhecidos

Azazel, Lúcifer, Toninho, Nicky, Lilith
Asmodeus, Callie, Belfegor, Cramulhão
Mefistófoles, Trigon, Hellboy e Satana
Baal e Zebub coreografam uma fusão

Descobri que eles venderam a alma na Europa
Tudo mudou depois da Grande Primavera
Tomo um Richebourg enquanto a lareira nos aquece
A humanidade apodrece, a Inferno S/A prospera

No vestíbulo, o exército industrial de reserva
No vestibular, a lâmina da universidade burguesa
Na vestibilidade, os imolados têm colarinho azul

Já o diabo usa gravata e prefere Prada
Abomina o Pravda, plata llama plata
Praticamente sem ternura, adora terno
A gata marca o território: hell here
Quem rir arderá no mármore do inferno

O inferno austero do Reino de Hades
O inferno temporal do Espaço Makuu
O inferno samsárico da Casa de Virgem
O inferno sufocante da Grande Depressão
O inferno ganancioso das Colinas de Rocha
O inferno assalariado da Jornada de Trabalho

Apenas os colarinhos azuis podem ver o porvir
Todos na festa querem saber o que há no além
Um colarinho azul torturado enxergou a resposta
Mademoiselle o ouviu, aguardamos, ela não vem
= =  =

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