quarta-feira, 2 de julho de 2025

Poemas sobre a classe operária: Os Quitutes da Classe Artesã no Carro de Som

Os quitutes da classe artesã no carro de som
Paulo Ayres

O agro está em tudo
A política está em tudo 
O espírito santo está em tudo

Sigo a perigo 
Três semanas sem beber vinho
Uivando para Lua, subindo pelas paredes

Na zona urbana os animais são diferentes
Chamam a atenção para a degustação
Cada mordida é um vale-suor na troca

Pamonhas, churros e canudinhos
Pamonhas, churros e canudinhos
Os ingredientes vêm de tão longe
Os impacientes vêm de tão perto

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terça-feira, 1 de julho de 2025

Poemas sobre a classe operária: Kethelyn


 
Kethelyn
Paulo Ayres

Para além do verde musgo da cloroquina
Loira trancada nesse apartamento
Neste lamento, ela não tem culpa
Mas aconteceu e se rompeu

Pedreiros, encanadores e decoradores
Não sabem das dores em cada rodapé 

Vadias do interior do Paraná,
Vadias de Campinas e Niterói
O que mais dói é a cara de pau
Sonhando com uma dupla penetração

Kethelyn, uma comunista tão bela
Uma singela amiga imaginária

Filha e mãe são amigas
Bem-vindas ao apartamento
No meio da mesa de divisões
Trabalho material e dor emocional
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terça-feira, 17 de junho de 2025

Poemas sobre a classe operária: Uma Piada Internacional

Uma Piada Internacional
Paulo Ayres

Um Jesus que não veio de Belém
Milionário sem nenhum vintém
Do quintal ele não enxerga além
E Vitor Filipe é apenas um Ken

Em cada mês uma penitência
Humilhação ali é recorrência
Até em inglês pedem paciência
E Marina Ferri tem a fluência

Sonhando em viajar longe dali
Sarandi é a cidade do coração

Operário que não tem o amanhã 
Sem corpo são e nem mente sã
Travando sempre uma luta vã
Lá na Cracolândia é um Cauã

Acende maçarico com isqueiro
Rola o YouTube o dia inteiro
Humor de fofoca e banheiro
Neves no cume estrangeiro

Sonhando em viajar longe dali
Sarandi é a cidade do coração
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sábado, 17 de maio de 2025

Poemas sobre a classe operária: O Operariado de Santana do Agreste

O operariado de Santana do Agreste
Paulo Ayres

É vermelha a luz de Tieta
São pretas as vestes da bruxa
Assombração branca é bem viva
Mas menos ativa que a da fazenda

A cama redonda é móvel rosa
Não é o que mais ali entrosa
Movimento da costura coletiva
Mas menos ativa que a da fazenda

Do lado de dentro do cercado
Um punhado de operários rurais
No cabresto de Coronel e Filó
Uma gaiola de favores sexuais

A fábrica de Mangue Seco
Ideia que secou na fonte
Turismo com tanta pressa
Tropeça na cidade fantasma

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[0] Primeiro tratamento: 15/05/2019.
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quinta-feira, 8 de maio de 2025

Poemas sobre a classe operária: Anticapitalismo Romântico na Calçada das Americanas

Anticapitalismo romântico na calçada das Americanas
Paulo Ayres

Um colar com pedra mística que vibra com ascendência em Urano
Fulano me mostrou uma pulseira

Lá dentro, servidores com nota fiscal
Aqui fora, artesãos que a maioria não nota

Quem fez os produtos lá de dentro?
Quem fez as roupas, os talheres e o radinho tocando reggae aqui fora?
Será?
Será que foi a operária apressada?

Mercadorias que a deusa Mãe Galática não sabe fazer
Namastê, amiga anarquista

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[0] Primeiro tratamento: 09/05/2018.
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quarta-feira, 7 de maio de 2025

Teses ad Feuerbach (1845)

 

por Karl Marx

I
 
O principal defeito de todo o materialismo existente até agora (o de Feuerbach incluído) é que o objeto [Gegenstand], a realidade, o sensível, só é apreendido sob a forma do objeto [Objekt] ou da contemplação, mas não como atividade humana sensível, como prática; não subjetivamente. Daí o lado ativo, em oposição ao materialismo, [ter sido] abstratamente desenvolvido pelo idealismo – que, naturalmente, não conhece a atividade real, sensível, como tal. Feuerbach quer objetos sensíveis [sinnliche Objekte], efetivamente diferenciados dos objetos do pensamento: mas ele não apreende a própria atividade humana como atividade objetiva [gegenständliche Tätigkeit]. Razão pela qual ele enxerga, n’A essência do cristianismo, apenas o comportamento teórico como o autenticamente humano, enquanto a prática é apreendida e fixada apenas em sua forma de manifestação judaica, suja. Ele não entende, por isso, o significado da atividade “revolucionária”, “prático-crítica”.
 
II
 
A questão de saber se ao pensamento humano cabe alguma verdade objetiva [gegenständliche Wahrheit] não é uma questão da teoria, mas uma questão prática. É na prática que o homem tem de provar a verdade, isto é, a realidade e o poder, a natureza citerior [Diesseitigkeit] de seu pensamento. A disputa acerca da realidade ou não realidade do pensamento – que é isolado da prática – é uma questão puramente escolástica.
 
III
 
A doutrina materialista sobre a modificação das circunstâncias e da educação esquece que as circunstâncias são modificadas pelos homens e que o próprio educador tem de ser educado. Ela tem, por isso, de dividir a sociedade em duas partes – a primeira das quais está colocada acima da sociedade. A coincidência entre a altera[ção] das circunstâncias e a atividade ou automodificação humanas só pode ser apreendida e racionalmente entendida como prática revolucionária.

IV
 
Feuerbach parte do fato da autoalienação [Selbstentfremdung] religiosa, da duplicação do mundo [Welt] num mundo religioso e num mundo mundano [weltliche]. Seu trabalho consiste em dissolver o mundo religioso em seu fundamento mundano. Mas que o fundamento mundano se destaque de si mesmo e construa para si um reino autônomo nas nuvens pode ser esclarecido apenas a partir do autoesfacelamento e do contradizer-a-si-mesmo desse fundamento mundano. Ele mesmo, portanto, tem de ser tanto compreendido em sua contradição quanto revolucionado na prática. Assim, por exemplo, depois que a terrena família é revelada como o mistério da sagrada família, é a primeira que tem, então, de ser teórica e praticamente eliminada.

V
 
Feuerbach, não satisfeito com o pensamento abstrato, quer a contemplação [Anschauung]; mas ele não compreende o sensível [die Sinnlichkeit] como atividade prática, humano-sensível.

VI 

Feuerbach dissolve a essência religiosa na essência humana. Mas a essência humana não é uma abstração intrínseca ao indivíduo isolado. Em sua realidade, ela é o conjunto das relações sociais.
Feuerbach, que não penetra na crítica dessa essência real, é forçado, por isso:
  1. a fazer abstração do curso da história, fixando o sentimento religioso para si mesmo, e a pressupor um indivíduo humano abstrato – isolado.
  2. por isso, a essência só pode ser apreendida como “gênero”, como generalidade interna, muda, que une muitos indivíduos de modo natural
VII
 
Feuerbach não vê, por isso, que o próprio “sentimento religioso” é um produto social e que o indivíduo abstrato que ele analisa pertence a uma determinada forma de sociedade.

VIII
 
Toda vida social é essencialmente prática. Todos os mistérios que conduzem a teoria ao misticismo encontram sua solução racional na prática humana e na compreensão dessa prática.

IX
 
O máximo a que chega o materialismo contemplativo, isto é, o materialismo que não concebe o sensível como atividade prática, é a contemplação dos indivíduos singulares e da sociedade burguesa.


O ponto de vista do velho materialismo é a sociedade burguesa; o ponto de vista do novo é a sociedade humana, ou a humanidade socializada.
 
XI
 
Os filósofos apenas interpretaram o mundo de diferentes maneiras; o que importa é transformá-lo.
 
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[1] As Teses ad Feuerbach foram escritas por Marx em meados de 1845, em Bruxelas, e encontram-se no seu livro de anotações de 1844-1847 com o título de “1. ad Feuerbach”. Foram publicadas pela primeira vez em 1888, por Engels, como apêndice de seu livro Ludwig Feuerbach e o fim da filosofia clássica alemã e com o título de “Marx sobre Feuerbach”. Engels fez algumas modificações no texto de Marx, razão pela qual apresentamos, aqui, o manuscrito original de Marx, seguido da versão alterada por Engels. (N. T.)
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MARX, K. “Teses ad Feuerbach”. In: A ideologia alemã: crítica da mais recente filosofia alemã em seus representantes Feuerbach, B. Bauer e Stirner, e do socialismo alemão em seus diferentes profetas. 1845-1846. Trad. Rubens Enderle, Nélio Schneider, Luciano Cavini Martorano. São Paulo: Boitempo, 2007, p. 533-535.
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