Paulo Ayres
Todo dia morremos um pouco
Deixamos um pouco de nós pelo caminho
A morte nos acompanha em cada esquina
Não percebemos a sua presença
Tem dia, todavia, que o céu desaba
Há pouco sentido nesta sociedade antagônica
E em certos dias até este sentido se vai
Pode durar uns três dias ou mais
O fim parece próximo
Não há nenhuma luz no fim do túnel
É aí que precisamos detectar aquela morte implícita
Justamente ela pode nos estender a mão
Não a morte biológica
Mas sim o suicídio do ego
É preciso enxergar além da realidade imediata
Navegar além da personalidade frágil e ferida
O que eu sou está além da precária autoimagem
Eis a perspectiva e a intuição da totalidade
Totalidade social e totalidade geral
Este é o enfrentamento individual da alienação
O renascido não é o fim em si mesmo
O bom combate está no engajamento e compromisso
É preciso destruir o inferno de classes
Todo dia morremos um pouco
Todo dia espalhamos um pouco de vida também
Ali, naquela fábrica está um exausto operário
Injetando vida e valor em objetos inanimados
Mal sabe o pobre homem o que suas mãos podem fazer
Elas podem matar um mundo cão
E renascer o mesmo mundo
Desta vez ao avesso
Desta vez, inteiramente humano
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