sábado, 6 de agosto de 2016
Poemas sobre a classe operária: O Guardador de Rebanhos Literais
O guardador de rebanhos literais
Paulo Ayres
Quando subo no cavalo, a vista se expande
Estou em órbita contemplando a Terra
Todas as coisas parecem tão pequenas
As contas, as quintas e os cânceres
Ou quando lembro de Maria Augusta sorrindo
Pálida e tosada, não chorava mais como antes
Ela segurava minhas mãos para me confortar
E eu sendo conduzido para dormir no aprisco
Lá dentro, uma noite pode durar meses ou anos
O tempo não cura feridas e não afoga as mágoas
Contudo, não tem nada demais nisso
Não há nenhum machucado, apenas lã aparada
Ondas vem e vão, o mar permanece o mesmo
Mas caminhando no pasto não é possível perceber
Você só se dá conta disso em cima do cavalo
Que vista mais bela da natureza se tem daqui
A causalidade, os prantos, os micos, as rezas
Meus pés já não tocam esse terreno
Porém, apenas contemplar é boiar sem rumo
Tenho que deslocar o rebanho passivo
Sinto-me Éolo soprando as nuvens
Regendo a sinfonia, assim eu vivo e sobrevivo
Assim eu me concentro
Esqueço do meu salário sem aumento
Não me vem aquela vontade de chorar
Isso até quando eu colocar os pés na lama
Fechar o cercado
E me ver naqueles olhos
Não saber quem foi trancado
Não saber o que estou fazendo
O que está conduzindo essa minha vida
Hoje vou jantar e dormir
Tenho tanta saudade de Maria Augusta
E dos seus bolinhos de fubá
= = =
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