Desenho feito por Maiakovski em abril de 1921
O poeta-operário
Vladimir Maiakovski
Grita-se ao poeta:
“Queria te ver numa fábrica!
O quê? Versos? pura
bobagem!
Para trabalhar não tens coragem.”
Talvez
ninguém como
nós
ponha tanto coração
no trabalho.
Eu sou uma fábrica.
E se
chaminés
me faltam
talvez
sem chaminés
seja preciso
ainda mais
coragem.
Sei.
Frases vazias não agradam.
Quando serrais madeira
é
para fazer lenha.
E nós que somos
senão entalhadores a esculpir
a tora
da cabeça humana?
Certamente que a pesca
é coisa respeitável.
Atira-se
a rede e quem sabe?
Pega-se o esturjão!
Mas o trabalho do poeta
é muito
mais difícil.
Pescamos gente viva e não peixes.
Penoso é trabalhar nos
altos-fornos
onde se tempera o ferro em brasa.
Mas pode
alguém
acusar-nos de ociosos?
Nós polimos as almas
com a lixa do
verso.
Quem vale mais:
o poeta ou o técnico
que produz
comodidades?
Ambos!
Os corações também são motores.
A alma é poderosa
força motriz.
Somos iguais.
Camaradas dentro da massa
operária.
Proletários do corpo e do espírito.
Somente unidos,
somente
juntos remoçaremos o mundo,
fa-lo-emos marchar num ritmo célere.
Diante
da vaga de palavras
levantemos um dique!
Mãos à obra!
O trabalho é vivo
e novo!
Com os oradores vazios, fora!
Moinho com eles!
Com a água de
seus discursos
que façam mover-se a mó!
= = =
[0] Tradução de Emílio C. Guerra e Daniel Fresnot, 2006.
= = =
terça-feira, 29 de julho de 2014
Poemas sobre a classe operária: O Poeta-Operário
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