domingo, 3 de julho de 2016

Poemas sobre a classe operária: Que Fragilidade II


Que fragilidade II
Paulo Ayres

Baby, cuidado ao abrir a caixa
A taxa do valor de uso é decrescente
O seu presente já não é tão novo assim
Há quinze minutos saí da loja da esquina,
Caixa de Skinner, reforço não incluído

Baby, esse lado não é para cima
O guarda-chuva já está escangalhado
Se o estoque parado é lixo pro burguês,
O nosso estoquinho movente também é
Ao cartão de crédito, acredite se quiser

Essa Pajero tem pistão de plástico
Esse suco gástrico banha o celular
No fim da esteira, está um operário,
Receptor com uma luva de beisebol
Produto no anzol, inverteram Hegel
A quantidade supera a qualidade

Murando Benito Muros, a noite liberal
Mirando os sapatinhos de cristal, meia-noite
Observando a obsolescência programada
Na estrada, o operário pisa fundo e decola
Antes que o carregamento deixe de ser top
Um par de All Star, um Macaulay Culkin


* "Que Fragilidade I" é uma canção do Pato Fu.
Tratamento: 04/09/2016.

Nenhum comentário:

Postar um comentário